O Brasil conquistou sua primeira medalha de ouro nos Jogos de Tóquio com o surfista Italo Ferreira. Na madrugada desta terça-feira, pelo horário de Brasília (tarde de terça no Japão), ele ganhou do japonês Kanoa Igarashi na final e subiu ao lugar mais alto do pódio na estreia da modalidade no programa olímpico. O pódio ainda teve o australiano Owen Wright, que ficou com o bronze ao superar o brasileiro Gabriel Medina.
O resultado coroa o ótimo momento de Italo, que é o atual campeão mundial e em 2019 ganhou o ISA Games, que foi realizado no Japão. O brasileiro chegou ao resultado mostrando muitas manobras ousadas e acertando aéreos incríveis, mesmo com a perna um pouco machucada há algum tempo. Na final, ainda passou sufoco quando sua prancha quebrou e ele precisou trocar. Mas no final venceu por 15,14 a 6,60 e ficou com o ouro.
Italo se sentiu em casa no Japão. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) montou uma estrutura bem perto do local de competição e lá ele, Gabriel, Silvana Lima e Tatiana Weston-Webb dormiam, se cuidavam e faziam as refeições. Tinha até arroz com feijão, fazendo com que os atletas tivessem acesso à culinária do Brasil.
Outro fator de conforto era com o tipo de onda, o chamado Beach Break, que são praias com fundo de areia. É bem parecido com o que tem em Baía Formosa, no Rio Grande do Norte, onde Italo cresceu. “No Nordeste tem muitas praias assim com vento constante, então tentei tirar proveito disso”, explicou, mostrando o segredo de acertar tantos aéreos mesmo em condições adversas.
Foi lá no litoral potiguar que ele começou sua trajetória no esporte, inicialmente por acaso. O pai era pescador e usava grandes caixas de isopor para refrigerar os peixes. Às vezes, Italo pegava as tampas e ia para o mar. Foi assim que começou a percorrer suas primeiras ondas. “É uma vitória incrível pois eu vim de baixo. Por isso treino bastante”, explicou.
As conquistas no Japão reforçam a importância para o Brasil da entrada das duas modalidades radicais no programa olímpico, surfe e skate. Elas foram responsáveis por três pódios até agora e comprovaram o potencial do País nos dois esportes. Isso sem contar que ainda haverá a competição de skate park, na qual a equipe nacional tem alguma chance, principalmente no masculino.
Nas avaliações dos especialistas, já era esperado que tanto surfe quanto skate ajudassem o Brasil no quadro de medalhas. E poderia até ter sido mais caso Pâmela Rosa, favorita ao ouro no street, não estivesse machucada no tornozelo. Sem estar 100%, ela acabou não conseguindo se classificar para a final olímpica.
Teve também o revés de Medina, que surfou muito bem na competição, mas acabou perdendo na semifinal e na disputa do bronze em disputas apertadas com decisão polêmica dos juízes. “É triste quando isso acontece. Muita gente mandou mensagem… É difícil passar o ano treinando, se esforçando, e chegar nisso. Mas minha parte eu fiz, dei o meu melhor. Tem coisas que não dá para entender.”
Os feitos dos dois esportes já projetam bons ventos para a Olimpíada de Paris, em 2024, pois as duas continuarão no programa. Sem contar que quase todos os atletas que estiveram no Japão são bem jovens e têm condições de estar na competição novamente. Isso sem contar a forte renovação, pois muitos talentos estão surgindo.
Com as medalhas no peito, Medina e Italo vão agora para o próximo desafio, o Circuito Mundial de Surfe. Eles estão na primeira e segunda posições, respectivamente, e têm tudo para brigar por mais um título mundial. A próxima etapa será o Corona Open México, em Barra de La Cruz, Oaxaca, entre os dias 10 e 19 de agosto.
Caderno dos Esportes