O marqueteiro da pré-campanha de Lula (PT), Augusto Fonseca, foi afastado, nesta quinta-feira (21), segundo informou o partido em nota. A decisão ocorre em meio a uma crise pública na comunicação da pré-campanha.
Dirigentes petistas vinham pressionando pela substituição do ex-ministro Franklin Martins, que coordena a comunicação e que indicou Augusto para o posto. Franklin foi chamado para uma conversa com Lula na quarta-feira (20), alimentando rumores de que seria destituído.
Já a saída de Fonseca era tida como iminente entre petistas. A torcida entre líderes do PT é que Franklin Martins também peça para sair de suas funções, o que levaria ao fim do impasse. Mas Lula tem dito a petistas que não tem outros nomes para a missão.
Conforme antecipado, um dos nomes cotados para assumir no lugar de Augusto Fonseca é Sidônio Palmeira, ligado ao PT da Bahia. Ele fez os programas vitoriosos do ex-governador da Bahia Jaques Wagner em 2006 e 2010, e do atual, Rui Costa, em 2014.
“O Partido dos Trabalhadores informa que, por razões administrativas e financeiras, não foi possível consolidar a contratação da produtora MPB para participar da campanha eleitoral deste ano”, disse o partido em nota.
“A MPB foi selecionada, dentre outras conceituadas agências, pela alta qualidade da proposta apresentada, além de sua comprovada experiência em campanhas políticas vitoriosas. No entanto, não foi possível compatibilizar a proposta orçamentária com o planejamento dos recursos partidários”, segue o texto.
“O PT reconhece a qualidade dos serviços prestados pela MPB na criação e produção das inserções partidárias de rádio e TV e agradece a dedicação e o empenho de seus dirigentes e profissionais neste período”.
Os valores estimados para a campanha publicitária foram alvo de calorosos debates internos. Eles poderiam chegar a R$ 45 milhões, ou quase o dobro do que lideranças do partido imaginavam que ela custaria aos cofres da legenda. A crise no marketing desnudou uma queda de braço na coordenação da pré-campanha, que também tem sofrido críticas internamente pela falta de uma unidade na disseminação de ideias e pautas —e o vaivém nas declarações do próprio ex-presidente.
Dois exemplos mais recentes foram as declarações sobre o aborto e a reforma trabalhista.
O embate entre Franklin Martins e o secretário de comunicação do partido, Jilmar Tatto, revela a disputa entre o núcleo íntimo de colaboradores do ex-presidente e integrantes do PT pelos rumos da campanha. Petistas ouvidos pela reportagem afirmam que o ex-presidente tem expressado descontentamento com a condução na campanha, pedido ajustes no planejamento e afirmado que é preciso ter um comando único na comunicação.
A avaliação do partido é que é preciso mudar o curso da campanha não só na forma de comunicação. Mas também no conteúdo. A própria presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que serão necessários ajustes. “Nós estamos discutindo a estrutura de comunicação, tanto do partido quanto da campanha. Vamos tomar as medidas que acharmos necessárias tomar para ajustar. Mas isso não é um problema relevante”, afirmou à imprensa nesta semana.
Em relação ao trabalho de Franklin, petistas reclamam da dificuldade de diálogo com o coordenador. Esse abismo, dizem, é visível nas redes sociais, onde as páginas do PT e seus parlamentares não reproduzem postagens de Lula por não serem previamente avisados sobre essas publicações. O maior foco de queixa está nas redes sociais. Em comparação ao bolsonarismo, petistas afirmam que o comando da pré-campanha do petista é analógico.
Líderes do partido também se queixam do tom das peças levadas ao ar. Defendem uma abordagem mais humanizada na campanha de TV e rádio. A candidatura de Lula deve ser oficializada em 7 de maio, quando também entrará em ação uma coordenação política, sob o comando do senador Jacques Wagner (PT-BA) e a participação dos deputados federais Rui Falcão (PT-SP) e José Guimarães (PT-CE).
Carolina Linhares/Catia Seabra/Folhapress