Bahia – O primeiro grande desgaste na campanha de Jaques Wagner – Por Raul Monteiro

Dois efeitos imediatos se fizeram sentir com o vazamento da reunião em que a cúpula política do governo baiano tratou da sucessão do governador Rui Costa (PT) com o ex-presidente Lula, na última terça-feira: o desgaste provocado na candidatura do senador Jaques Wagner ao governo pelo PT e o distanciamento entre ele e o governador com relação à articulação política para a campanha estadual. Certamente, não foi bom para Wagner ter visto seu nome circulando associado à ideia de que seria substituído na disputa pelo colega senador Otto Alencar (PSD), em análises que apontavam para desde um acordo comum a um ‘golpe’.

Tanto que, logo após o encontro, do qual participara também a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman, ele próprio, Rui, Otto e Lula, o senador petista rapidamente recorreria às redes sociais para tanto confirmar a reunião quanto anunciar que permanece candidato. Um pequeno detalhe da manifestação de Wagner, no entanto, denunciou que o clima entre ele e Rui já não é o mesmo do período em que o escolheu para sucessor, há quase oito anos. Ao confirmar que ‘o quadro (político) continuava o mesmo’, Wagner se referiria a um suposto impasse no grupo decorrente do desejo de Otto e do vice-governador João Leão (PP) de disputarem o Senado.

Na verdade, muito mais forte do que a alegada briga entre o PP e o PSD pela vaga é a meta do próprio Rui de eleger-se senador. Foi ela que esteve por trás da estratégia do governador de preparar uma espécie de equação para atingí-la, sugerindo a Lula o plano de lançar Otto ao governo, de olho principalmente no significado que o gesto teria sobre o presidente nacional do partido do senador baiano, Gilberto Kassab, no sentido de viabilizar o apoio da legenda à candidatura presidencial petista. A consequência, naturalmente, seria o descarte do plano de eleição de Wagner, o que ninguém na base nem na oposição efetivamente esperava.

Mas a saída de cena de Wagner foi tratada tanto pelo governador quanto pelo ex-presidente com absoluto pragmatismo, como convém a duas lideranças políticas em condições de decidir autonomamente seus próprios passos. Nem é preciso falar sobre o impacto devastador que a notícia trouxe para as bancadas – estadual e federal – petistas, desesperadas com a possibilidade de perderem, de uma hora para outra, a alavanca de uma candidatura majoritária do partido, o que as obrigaria a repensar suas estratégias eleitorais e a recalcular o número mínimo de votos necessários à eleição de cada parlamentar.

Ontem, depois que o conteúdo da conversa entre os quatro vazou, emergiu também um novo esboço de estratégia que teria o mesmo objetivo de garantir a escolha de Otto ao governo e Rui ao Senado, a demonstrar a ousadia em que orbita o desejo. Ela consistiria em provocar uma renúncia conjunta de Rui e de Leão com o objetivo de levar a Assembleia Legislativa a eleger Otto para um mandato tampão de sete meses, ao fim do qual ele poderia disputar o governo no mandato, com Rui concorrendo ao Senado e tendo Leão como suplente. Eleito senador, o governador viraria ministro de Lula, Leão, ocuparia sua vaga no Senado, e Otto, ganhando, só não poderia mais disputar uma reeleição.

Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro/Política Livre

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