Com o surgimento de novas variantes do Sars-CoV-2, especialistas e autoridades de saúde em todo o mundo não descartam a possibilidade de uma vacinação anual contra a Covid, como é feito em todo o mundo contra a gripe. Nesse sentido, a produção de uma vacina conjugada que protegesse contra o vírus influenza, responsável pela gripe, e contra a doença causada pelo coronavírus seria o ideal –e pode ser uma realidade.
Isso porque a vacina combinada contra Covid e gripe da empresa de biotecnologia americana Novavax apresentou bons resultados em estudos em animais (testes pré-clínicos).
A tecnologia utilizada no desenvolvimento do imunizante é a mesma aplicada na produção da vacina contra gripe e na candidata a vacina contra Covid-19 da farmacêutica —proteínas do vírus são combinadas a nanopartículas e são transportadas ao organismo com a ajuda de um adjuvante (substância adicionada à composição da vacina que ajuda na resposta imune).
A sequência genética responsável por codificar a proteína S do Spike do Sars-CoV-2, espécie de gancho molecular utilizado pelo vírus para entrar nas células, é recombinada em células de uma espécie de mariposa. Essas células vão servir como “fábrica” biológica para produção da proteína, que é depois extraída, purificada e adicionada ao composto vacinal.
No caso da gripe, a vacina é produzida utilizando a proteína hemaglutinina de quatro cepas virais pertencentes aos tipos A e B da influenza —em geral, os mais comuns naquela estação de gripe. Essa mesma proteína das quatro variantes é recombinada ao DNA nas células do inseto para expressão gênica e depois adicionada às nanopartículas.
Para avaliar a imunogenicidade da vacina conjugada, batizada de qNIV/CoV2373, os pesquisadores mediram a produção de anticorpos específicos contra a proteína S e contra a hemaglutinina, bem como anticorpos neutralizantes específicos para os dois vírus, coronavírus e influenza, em furões e hamsters após a infecção dos animais com os mesmos.
Em ambos os modelos animais, a vacina levou à produção de anticorpos anti-Sars-CoV-2 e contra a hemaglutinina em taxas elevadas, superiores até à resposta imune produzida apenas pela vacina contra o vírus influenza. Ainda, o fármaco apresentou também bons índices de resposta imune celular.
Para saber se o imunizante também protegeu contra a replicação viral ou desenvolvimento de sintomas nas vias aéreas superiores, os cientistas colheram amostras para o exame de RT-PCR da região oral de lavagem broncoalveolar e analisaram também o tecido pulmonar dos bichos.
Nos quatro dias após a infecção, a quantidade de RNA dos dois tipos de vírus nos animais que receberam a vacina combinada gripe/Covid-19 era igual ou inferior ao limite mínimo, enquanto no grupo placebo foi encontrado um nível elevado de RNA viral.
Ainda, no grupo controle foram identificados pontos de deterioração dos pulmões, o que não foi observado no grupo dos vacinados, indicando uma proteção contra a evolução da síndrome respiratória. O artigo foi publicado na forma de pré-print na plataforma bioRxiv. Os desenvolvedores da vacina esperam começar os testes em humanos até o final de 2021.
Mas não é só fora do país que a ciência investiga uma proteção única para os principais vírus causadores de síndromes respiratórias no último ano. No Brasil, cientistas da Fiocruz de Minas em parceria com o Instituto Butantan também buscam uma fórmula de vacina que combina a imunização contra a gripe e a doença causada pelo coronavírus.
Por Ana Bottallo/Folhapress