Temos visto a intolerância se fazer cada vez mais presente e se expressar em pensamentos polarizados, intransigência, repressão, racismo, sexismo, homofobia e nas mais diversas formas de preconceito. A história nos mostra que o principal antídoto para a intolerância é a ampliação da tolerância.
Para ampliar a tolerância é necessário empatia, capacidade de compreender o outro, de se colocar em sua situação. É uma tarefa que exige inteligência emocional tanto para compreender o contexto de uma situação quanto para observar as suas motivações. Exige a mais simples das qualidades: paciência!
A modernidade ampliou os direitos individuais e a liberdade de expressão. Com ela, veio a necessidade de evolução constante, com a exigência de mais anos de estudo e dedicação permanente à carreira profissional. E ainda apareceram as redes sociais ocupando cada vez mais o tempo das pessoas. Essa combinação trouxe consigo fatores estressantes e potencializou a ampliação do individualismo e a ideia de que cada um pode ser um “juiz de plantão”, que pode julgar e condenar moralmente qualquer pessoa, a qualquer tempo.
Somos seres sociais e emocionais e o cotidiano acelerado e cada vez mais frenético, aliado à diminuição de valores e crenças, tem reduzido nossa capacidade de lidar com algo que não se enquadre em nossas expectativas ou exigências. E nesse contexto, a intolerância ganha força!
A intolerância vai crescendo dentro de um círculo vicioso que está sendo permissivo para a sociedade. Imagine uma situação trivial, quando uma pessoa faz uma postagem na internet manifestando a sua opinião sobre a importância de se dar mais atenção às crianças do que aos animais. Dependendo da forma como essa pessoa escrever o texto, poderá ser criticada severamente por quem gosta de animais. E a partir daí o debate entra em um campo de desrespeito, onde um é intolerante e julga o outro sem entrar no principal mérito do debate: tanto as crianças quanto os animais precisam de atenção.
Quando ficamos mais individualistas, ativamos o egoísmo e ficamos suscetíveis à ansiedade, ao estresse e à depressão. E nesse cenário, qualquer sinal de preconceito ou de rejeição ativa a possibilidade de intolerância, que se manifesta pelo desrespeito.
Para combatermos o preconceito ou a rejeição precisamos ampliar nosso relacionamento social, a nossa interação social. Para tanto, o principal desafio é ampliar nossa capacidade de aceitação, que se estabelece em diferentes níveis:
1º) A capacidade de auto aceitação, ter consciência de que o ser humano precisa se aceitar, se sentir bem no meio social do jeito que é e não querer que ninguém seja igual a ninguém. A primeira meta é se aceitar para influenciar a percepção da família e o julgamento da sociedade.
2º) A aceitação familiar, que exige a compreensão de que as pessoas são diferentes e de que a família é composta por distintas características e personalidades. A família deve ser o berço do respeito, da generosidade, da compressão, da igualdade e da dignidade. A relação familiar tem o poder de diminuir o individualismo e a intolerância e de estimular a empatia.
3º) Aceitação social, que inclui a capacidade de diálogo e de respeito em todos os tipos de relacionamentos: seja na escola, no trabalho, na vizinhança ou entre amigos. A aceitação social necessita de tolerância e de muito exercício empático: para entender o outro, preciso me colocar em seu lugar!
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br
Fonte: IPO