Expedição inédita vai mapear a preguiça de coleira, no norte da Bahia

Começou nesta sexta-feira (1°) uma expedição inédita na Bahia, com o objetivo de estudar a preguiça de coleira (Bradypus torquatus), espécie endêmica ameaçada de extinção. O projeto é liderado pelo Instituto Tamanduá Brasil e tem apoio da Concessionária Litoral Norte (CLN), empresa do Grupo Invepar.

A equipe de pesquisadores, composta de médicos veterinários, biólogos e ecólogos, saiu de Ilhéus, no sul da Bahia, onde está a base do Instituto Tamanduá Brasil, e chegou ao norte do estado, na região de Mata de São João, onde permanecerão durante dois dias, catalogando os animais existentes na região da Reserva Sapiranga. Dali, subirão para o extremo norte baiano, na região do Conde, onde devem ficar até a semana que vem, estudando a distribuição do animal, antes de seguir para Sergipe.

Os pesquisadores são da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), e do Instituto Tamanduá Brasil. Eles contam com a parceria da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e das universidades Federal de Minas Gerais (UFMG) e de São Paulo (USP) para análise do material que será coletado. A expedição será registrada pelo fotógrafo Adriano Gambarini, da National Geographic.

A fundadora e coordenadora do Instituto Tamanduá Brasil, médica veterinária Flávia Miranda, explicou o objetivo da pesquisa: “esta é uma expedição inédita, onde a gente vai trabalhar, ver o limite norte dessa distribuição e buscar capturar esses animais para coleta de amostra biológica para aumentar as informações sobre a espécie, que está ameaçada de extinção pela questão do desmatamento, da especulação imobiliária”.

A preguiça de coleira é do grupo dos Xenarthras, que inclui os tamanduás, tatus e as preguiças. “São todos parentes. É um grupo evolutivo muito antigo. Tem mais de 60 milhões de anos e é exclusivo da Amértica Latina. Uma coisa que é importante a gente lembrar é que essa espécie é única do Brasil. Só ocorre aqui no Brasil, é endêmica, e a distribuição dela vai do Rio de Janeiro até o Sergipe”, informou a pesquisadora.

Mapeamento:

O Projeto Preguiça de Coleira vem estudando os animais existentes na Reserva de Sapiranga há cerca de dois anos. No período, foi possível obter dados sobre a dieta dos animais, seus ciclos reprodutivos, tempo geracional, quantidade de machos para cada fêmea, entre outras informações.

O objetivo da expedição é ampliar o olhar para a população de preguiças do extremo norte do estado e comparar com as informações coletadas anteriormente na região da Praia do Forte, em Mata de São João, também na Bahia.

Flavia conta que o rio Paraguaçu pode estar separando populações da preguiça, o que leva a uma incerteza taxionômica. “Não sabemos se elas chegam a pertencer à mesma espécie, se há diferença taxonômica ou fisiológica. Não temos nenhum registro dos indivíduos dessa localidade”, explicou Flávia.

Para capturar os animais em áreas de mata fechada, a equipe conta com técnicas diferenciadas, entre as quais o levantamento aéreo por meio de drone. As preguiças serão capturadas terão a saúde avaliada, terão catalogação de amostras biológicas e, em seguida, serão devolvidas ao mesmo local de onde foram retiradas.

Preservação:

A expedição tem o objetivo não só de estudar a espécie, mas também contribuir para sua preservação. Toda a coleta de dados será transformada em plano de ação para a conservação da espécie. “Todos esses dados são repassados ao governo, para o Instituto Chico Mendes [de Biodiversidade – ICMBio], para o plano de ação nacional da preguiça de coleira. A ideia é transformar a pesquisa em políticas públicas e também levar para a sociedade”, disse Flávia.

A expectativa é de que a expedição termine por volta do próximo dia 12. O material coletado será separado na UESC, onde será feita toda a análise de saúde. Para a Fiocruz, será enviado o material para análise parasitológica; a UFMG responderá pela análise de geoprocessamento e genética, e a USP analisará os carrapatos e outros parasitas.

Os resultados serão incorporados ao plano de ação nacional do ICMBio ainda neste ano, assegurou Flávia Miranda. Os resultados científicos demandarão mais tempo para serem publicados em artigo. “Quanto mais rápido, melhor. Mais força a gente tem para criar políticas públicas rápidas”.

Outra pesquisa de mapeamento liderada por Flávia Miranda vai revelar se há apenas uma espécie na região ou se existe alguma diferença taxonômica entre os animais. “A gente vai estimando a população, estudando dados genéticos, levantando dados geográficos, para ver se tem grandes barreiras entre essas populações. É um grande mapeamento que não foi feito ainda”.

Edição: Denise Griesinger/Agencia Brasil

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